Os meus amigos internautas vão descer a lenha em minha cabeça dizendo que estou louco em relembrar Machado de Assis, o escritor que fez com que todos os estudantes de nosso Brasil queimassem a massa encefálica para aprender e decorar coisas de seus livros, em preparação para o vestibular.
Quem não ouviu falar dos livros Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, a mão e a luva, Dom Casmurro, Helena, Ressurreição, Iaiá Garcia, Esaú e Jacó, Memorial de Aires entre outros?
Também eu estive às voltas com o velho Machado de guerra, tentando aprender a sua maneira de escrever e o que escreveu para poder fazer jus à nota em literatura e passar no vestibular.
Alguns vão me dizer que errei no título deste despretensioso comentário com fundo espírita. Afinal o grande livro deste mestre foi o “Memórias póstumas de Brás Cubas” o que não confere com o titulo empregado: “Memórias póstumas de Machado de Assis”. Eu poderia ter colocado o titulo “Machado de Assis póstumo” e estaria tudo certo. Mas, preferi utilizar o mesmo título do livro que li e que relata os primeiros dias de vida do grande escritor no mundo espiritual.
Vamos aos fatos: como espírita, adoro estudar as nuances que ocorrem nas relações entre os dois mundos: material e espiritual. Há pouco tempo vi num catalogo de livros de onde abasteço minha biblioteca, que estava à venda um livro que contava a vida de Machado de Assis depois da morte. Achei interessante o fato e adquiri o mesmo. Terminei de ler o livro e fui pesquisar a biografia do grande escritor e ler o livro “memórias póstumas de Brás Cubas” para poder comparar o estilo do autor quando na carne e o estilo utilizado na espiritualidade. É o mesmo Machado de Assis, sem por nem tirar. O mesmo estilo, a mesma ironia, o mesmo humor. É ele em tudo e por tudo. Não existe diferença entre o vivo na terra e o vivo no mundo espiritual.
Tenho que parabenizar a médium Ismênia dos Santos, já desencarnada, de Belo horizonte, que recebeu pela psicografia este livro. Era praticamente desconhecida no mundo espírita. E Machado de Assis escreveu o livro através dessas mãos abençoadas no exercício de sua mediunidade, exatamente cinqüenta anos após o seu falecimento. Serviço portentoso e de grande coragem realizado por essa mulher. Se o amigo leitor pensa que é “moleza” o trabalho mediúnico de psicografia com os grandes escritores que se preste a fazer para ver quanto dói uma saudade.
Se antes não tinha predileção pelo Machado de Assis era por que não o conhecia bem. Na verdade ele era do século XIX, mas os seus escritos são atuais. Parece que ele fala das coisas do nosso dia a dia em pleno século XXI.
Sua biografia mostra que foi um menino pobre que perdeu a mãe bem cedo e também a única irmã. O pai, um pintor de paredes, casou-se novamente com Maria Ignes que lhe ensinou as primeiras letras e o trabalho honesto de vendedor de doces.
Para complicar ele era mulato, pobre, epiléptico e gago o que lhe valia chacotas de todo tipo das crianças da época. Aprendeu as primeiras letras com a madrasta, não freqüentou curso escolar regular, aprendeu francês com o forneiro de uma padaria, aprendeu inglês e alemão como autodidata. Traduziu para o português “Os trabalhadores do mar” de Victor Hugo e “o corvo” de Edgar Allan Poe.
Mas como todo defeito é pouco, o menino ainda tinha sonhos horríveis, que o deixavam com o moral lá para baixo. Somente o remedinho de chá de melissa de sua madrasta o curava.
Certo dia, aos dezessete anos, um senhor o convidou para trabalhar em sua gráfica como aprendiz. Aceito o serviço, começou a trajetória de sucesso desse homem que chegou ao cargo de secretario e de diretor geral de contabilidade do ministério da Viação.
Como escritor foi um sucesso. Era uma pessoa muito simples e quando publicou “memórias póstumas de Brás Cubas” pensou que se cinqüenta, vinte ou mesmo cinco pessoas lessem o livro já estaria feliz.
É considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos e um dos maiores do mundo. O critico norte-americano Harold Bloom considera Machado de Assis um dos cem maiores gênios da literatura de todos os tempos. Quer mais?
Nós não sabemos escrever duas linhas corretamente e do alto de nossa estultícia criticamos os escritores como se fossemos nós os donos da verdade.
Confesso que aprendi a gostar de Machado de Assis, por ser um homem que venceu os desafios da vida e por ser um escritor de alto gabarito.
Mas para mim o que importa é conhecer e falar sobre os dois tipos de vida desse espírito. Vida material e vida espiritual. E esse é o objetivo destas linhas.
Machado de Assis foi um homem probo que sempre pautou a vida no bem. Sempre trabalhou honestamente, casou-se com uma jovem portuguesa que havia chegado há pouco no Brasil, e a amou muito.
Foi presidente da Academia Brasileira de Letras até o seu desencarne. Não acreditava na vida após a morte. Era muito sincero com essas coisas. Sendo, pois, uma pessoa honesta e trabalhadora, já tem os seus méritos e é o suficiente para fazer com que se estude a sua vida. Os probos merecem que se ganhe um tempo para conhecer a sua passagem pela Terra.
Os meus amigos devem estar curiosos para saber o que aconteceu com o grande Machado de Assis depois de sua morte. Vou contar sem muitos rodeios como ele mesmo o fez. No livro, Machado não conta em detalhes os locais por onde passa, as pessoas com quem mantém contato, o que dificulta um pouco o estudo. Mas vamos em frente com sua história que a curiosidade é grande.
Machado de Assis narra que após o desencarne ficou como que perdido, pois, via o seu corpo num caixão, e se reconhecia em outro corpo, com o pensamento que girava, na sala do velório. Imaginem o problema para o homem que não acreditava que havia vida depois da morte, encontrar-se vivo, olhando o seu corpo inerte ao lado. Foi demais para a sua cabeça. Sentia ainda os reflexos da doença que o vitimou.
Quando queria se afastar dos despojos, sentia um choque e acabava por voltar para perto do corpo. Ouvia os amigos dizendo que ele, o grande Machado de Assis, estava morto. Como morto? Não estava morto porque podia ouvi-los, sentia dores, pensava, sofria...
Quando vestiram o fardão da Academia Brasileira de Letras em seu corpo material, sentiu no corpo espiritual tudo quanto faziam na matéria morta. Seus corpos estavam interligados como numa simbiose.
Quando o cortejo seguiu para o cemitério de São João Batista, debaixo de uma garoa fina e fria, caminhava ao lado do caixão, de pés descalços, sentindo a friagem que subia pelo corpo.
Depois do enterro chamou duas senhoras. Uma delas, com mediunidade de clarividência, viu o Machado de Assis, magro, de barbas brancas, doente, e gritou para a amiga que estava vendo um fantasma. O escritor se afastou e voltou para sua casa. Entrou pela porta que estava fechada e chamou por seu mordomo que não o escutou.
Precisando de óculos, pois estava enxergando pouco, desceu a rua até a casa de um compadre que tinha uma ótica. Não foi recebido na casa, pois o homem não estava. Saiu à rua e perguntou a um transeunte por que o comércio estava fechado. Recebeu como resposta: por que morreu o Machado de Assis. Voltou para casa e se sentiu solitário como nunca.
Ouviu vozes que o chamavam para segui-los para outro mundo. Reconheceu Maria Ignes, sua madrasta, que o recosta numa almofada e então viaja por um oceano azul. Depois que acorda, sobem uma escada com perto de mil degraus e se vêem num porto feliz. Ele descansa numa praia e seguem depois para uma praça da cidade, onde centenas de pessoas passam com livros e apostilas nas mãos. São estudantes.
Entram numa casa onde são recebidos por Paula Brito, o homem que lhe deu o emprego em sua livraria. Numa sala está o quadro a óleo retratando a sua amada Carolina. Vão para o quintal onde comem laranjas com casca e outros frutos. Sua mãe Maria Leopoldina está presente, com uma moça chamada Leonor.
Depois Machado de Assis recebe a visita de uma menina que se transforma numa moça muito bonita. Ela lhe dá um buquê de flores e agradece a poesia que recebeu quando na terra. Diz que morreu jovem e que os pais foram por ele confortados. Abraçou-o e lhe deu um bilhete dobrado onde Machado leu a poesia que lhe dedicara quando menina. O grande vate chorou copiosamente.
Voltaram para a praça e entraram num edifício suntuoso, onde Machado recebeu uma homenagem de escritores, que lhe disseram que o seu antigo lugar estava reservado, pois cumpriu integralmente a sua missão na Terra, e honrou a tradição espiritual. Foi muito aplaudido.
Em seguida, os três viajaram pelo espaço num veiculo parecido com uma carruagem, até uma cidade distante, que se via dali, como um ponto azul. Era a cidade azul.
Ali, Machado de Assis reencontra a sua amada Carolina, que se veste de pétalas de rosas brancas. Ele também troca o seu traje espiritual por uma túnica. Tudo isso pela força do pensamento construtor. Carolina havia plasmado uma casa exatamente igual a do Cosme Velho onde moravam no Rio. Dezenas de escritores, músicos e amigos homenageiam Machado de Assis e Carolina fala sobre a sua volta à espiritualidade. Ele também fala à platéia e dedica um soneto à sua amada.
Mentalmente Paula Brito pede a Machado de Assis que o encontre na rua. Seguem em missão até Londres para mudar a sentença que um juiz faria e que prejudicaria imensamente a obra que os espíritos estavam realizando. Machado de Assis fez uso de sua mestria em escrever e com o consentimento divino faz com que o juiz modifique o seu pensamento e escreva o que era justo.
Quando voltam ao lar, Machado encontrou-o iluminado com cores azuis. Sentou-se ao piano e tocou algumas notas. Carolina chegou e convidou-o para cear sucos de morangos.
Dezenove anos depois ele volta ao Rio de janeiro para rever os amigos. Carolina agora chamada Leda, e Machado de Assis, revendo os arquivos espirituais souberam que ele se chamou Sterne em outra vida e que já havia vivido na Inglaterra e que fora um famoso escritor.
Em tempo. Quem quiser aproveitar e se deliciar com a leitura deste livro, pode adquiri-lo através do www.comecebem.com. Ou pelo fone 0800.160.560
Luiz Marini 22 de novembro de 2008
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