terça-feira, 14 de outubro de 2008

GUERRA DO CONTESTADO

Pouca gente conhece ou ouviu falar da guerra do contestado, ocorrida num pedaço de terra disputado pelos estados do Paraná e Santa Catarina. Não era um pedaço pequeno de terra. Eram perto de 40.000km². Tinha uma dimensão muito grande, abrangendo a região entre as cidades de União da Vitória, Palmas, Irani, Campos Novos, Curitibanos, Caçador e Lages.

A guerra do Contestado aconteceu lá pelos anos de 1912 a 1916. Já faz muito tempo e as conseqüências desse conflito até hoje é sentido na região. Para os políticos que montaram o cenário, geraram as causas, e, depois do conflito encerrado, simplesmente esqueceram o que aconteceu, ficou somente a lembrança de mais uma revolução de brasileiros oprimidos que conseguiram sufocar.

Isso foi na rabeira da guerra dos canudos ocorrida na Bahia entre os anos 1896 e 1897. Os governos não podiam deixar que acontecesse no sul do país o que havia ocorrido no nordeste.

Um novo “canudos” no sul do Brasil, jamais.

Lá nos confins do sertão nordestino, mataram muita gente que se refugiou no acampamento de Antonio Conselheiro. Destruíram tudo. Não sobrou pedra sobre pedra.

Aqui no sul por certo era necessário também varrer do mapa as pretensões dos sertanejos à beira da miséria. E foi o que o governo fez.

Mas para que possamos entender a guerra do contestado é necessário fazer um breve resumo da mesma.

Tanto o Paraná quanto Santa Catarina eram estados que estavam na rota dos tropeiros que viajavam entre o RS e SP. Muitos grupos remanescentes da Guerra dos Farrapos se instalaram na região e montaram com grandes proprietários de terras o chamado coronelismo, e tudo controlavam com mão de ferro.

O estado do Paraná havia se desmembrado de São Paulo em 29 de agosto de 1853 pela Lei Federal 704.

A região denominada “contestado” abrangia perto de 40.000km² entre o PR e SC e estava há muitos anos em litígio.

Por fim, em 06 de junho de 1904, o acórdão do Tribunal Federal entende que as terras em litígio pertencem a Santa Catarina. Para os sertanejos continuou tudo na mesma: o trabalho escravo, a fome, a miséria, o abandono.

Nesse burburinho todo, muitas famílias de sertanejos e imigrantes fincavam raízes na região, em busca da sobrevivência.

Em 1887 o engenheiro João Teixeira Soares projetou o traçado da ferrovia com 1.403 Km entre Itararé em SP e Santa Maria no RS e recebeu a concessão da mesma em 09 de novembro de 1889 por D. Pedro II, ratificada pelo Marechal Deodoro da Fonseca em 7 de abril de 1890 já em plena República.

O primeiro trecho entre Itararé e Porto União com 264 km foi entregue em 1905.

Em 1908 o americano Percival Farquhar assumiu a concessão e criou o holding Brazil Railway Company e a Southern Brazil Lumber & Colonization Company para explorar a madeira araucária da região.

Foram contratados 8.000 homens para construir a estrada. Como não tinham máquinas tudo foi feito com pás, picaretas, enxadas, dinamite, e carrinhos de mão. Como recebiam por metro construído a estrada tem curvas que não terminam mais...

A estrada de ferro foi inaugurada em 17 de dezembro de 1910.

No ano de 2002 depois de muitos entraves o trecho entre os rios Iguaçu e Uruguai foi abandonado pela América Latina Logística S/A, por não vislumbrar lucros no empreendimento.

A confecção do estopim que detonou a guerra do contestado ocorreu por algumas razões:

- os coronéis e fazendeiros que mandavam nas terras como queriam e os sertanejos que ficavam cada vez mais pobres;

- o litígio nesta terra de ninguém disputada pelos dois estados;

- a demissão de mais de 1.000 trabalhadores da região com o término da estrada de ferro, e que se puseram a vagar sem ter aonde ir e onde trabalhar;

- a doação de 15 km de terras de cada lado da ferrovia (chamadas terras devolutas) para a companhia estrangeira para assentamento de pessoal vindo do exterior;

- a retirada dos sertanejos crioulos da terra pela companhia;

- o surgimento de João Maria de Agostinho, monge caritativo, que nada influenciou no conflito, pois morreu em 1870, mas que criou nos sertanejos um clima de messianismo;

- depois da morte de João Maria surgiu o monge José Maria que incitou os revoltosos à guerra;

O primeiro combate foi em 22 de outubro de 1912, em Irani, onde morre o monge José Maria. Em seguida o grupo vai para Taquaruçú onde erguem um povoado e contam com mais de 700 pessoas. O governo federal manda mais tropas e em 09 de fevereiro de 1914 destroem taquaruçú a ferro e fogo, matando muita gente.

Os nativos vão para Caraguatá, perto da estação do rio caçador. Ali aparece Maria Rosa, moça de 15 anos, mística que comanda mais de 5.000 pessoas no novo reduto. Ela se veste de branco, com fitas verdes e azuis e monta um cavalo branco com arreios cobertos de veludo. Seu fuzil também é enfeitado de fitas.

Ela é a intérprete do monge José Maria.

A doença e a fome fazem com que abandonem Caraguatá e montem outro reduto em Pedras Brancas. Maria Rosa comanda a retirada. Em 08 de janeiro de 1915, os soldados incendeiam o local e aprisionam 270 rebeldes.

Maria Rosa é traída e destituída de seu cargo pelos companheiros e Adeodato assume as rédeas do poder. Numa batalha em 28 de março de 1915, Maria Rosa é morta às margens do rio Caçador.

O reduto de Santa Maria cai em 03 de abril de 1915. Adeodoto foge e é capturado em 16 de agosto de 1916, colocando ponto final na guerra do contestado. Adeodato, condenado a 30 anos, morre em 1923, numa tentativa de fuga da prisão.

Segundo dados morreram perto de 10.000 revoltosos e 1.000 soldados. Não se sabe ao certo, porque naquela época o censo...

Se 1916, com a prisão de Adeodato, terminou oficialmente o conflito armado, a pergunta que se faz é: como é que ficaram os despojos da guerra?

Porque em toda guerra sobram muita destruição, ódio, rancor e poucas vantagens e glórias.

Tão logo terminou o conflito, as terras marginais à ferrovia foram vendidas para grupos gaúchos que passaram a revendê-las para colonos imigrantes que desejavam se colocar num pedaço de chão.

Os sertanejos remanescentes do local continuaram sem a posse da terra onde viveram por muitos anos e onde haviam criado raízes profundas. Estavam novamente sem rumo e seu destino deveria ser trabalhar para os novos donos sem reclamar, ganhando somente o necessário para viver. Voltavam ao ponto de partida: a semi-escravidão.

Dentre os despojos da guerra ninguém fala das pessoas que morreram. Quando muito erguem algum monumento para lembrá-los e também para que no futuro se cale qualquer voz que ouse se levantar contra o sistema vigente.

Como é de conhecimento de todos quando a pessoa morre, o corpo se decompõe, voltando à terra-mãe e o espírito ou alma, continua a sua trajetória pelo mundo espiritual.

Todas as religiões pregam a sobrevivência do espírito à morte do corpo. Então fica mais fácil explicar o que aconteceu com os espíritos daquelas pessoas que morreram na guerra.

Quando a pessoa morre durante uma guerra, o espírito permanece impregnado do mesmo sentido de violência e ódio contra os opositores e carrega isso no mundo espiritual. Geralmente permanece no mesmo local, sem saber que desencarnou, continuando a combater os inimigos. Raros são aqueles que conseguem se desvencilhar dessa trama e seguir rumo aos bons lugares na espiritualidade.

No caso do contestado, temos que contar uma pequena história para entendermos o que ocorreu com os espíritos, na vida espiritual, depois do encerramento do conflito.

Em 01 de outubro de 2008, durante palestra no Centro Espírita Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, uma jovem perguntou se Maria Rosa, uma das líderes dos revoltosos, via, ouvia e incorporava o espírito de José Maria, o monge que incitou os colonos a defender o seu chão, morto no primeiro embate no Irani. Nossa resposta foi que a história conta que ela realmente se comunicava com o espírito citado.

À noite o Dr. Bezerra nos pediu para pesquisar o conflito, o que foi feito no outro dia. Então o mentor nos pediu se tínhamos interesse de auxiliar num trabalho de resgate dos espíritos ainda vinculados a essa guerra. Respondemos que isso seria para nós uma honra. Não deveríamos temer qualquer coisa. Só confiar em Jesus.

No primeiro momento em que nos pusemos a meditar, chegaram os mentores trazendo o espírito de uma moça que conversou mentalmente conosco. Com ela estava o seu grupo de companheiros. Na outra quarta-feira, durante a palestra sobre o Contestado, ela pediu permissão e contou de viva voz a sua história, que foi gravada e reproduzida no papel.

Era o espírito de Maria Rosa que se comunicava.

Abro uns parênteses para dizer aos meus amigos que na internet tem pouquíssima informação sobre Maria Rosa. E era ela quem Dr. Bezerra trouxe ao Centro Espírita.

Na história essa heroína conta que permanecia com centenas de companheiros desencarnados vagando pelas terras onde havia ocorrido o conflito. Muitas vezes ficava nos museus onde via as pessoas modernas chegar e olhar as relíquias da guerra. Até que alguns dias antes lembrou de Jesus e pediu auxilio.

No que foi prontamente atendida através da falange do Dr. Bezerra. O médico dos pobres trouxe esses espíritos até nossa presença. Ela e os companheiros foram encaminhados a uma cidade espiritual onde receberam tratamento e puderam ver num filme tudo quanto vivenciaram na guerra. Viram também que Jesus permitiu que centenas de companheiros mortos no combate, voltaram à terra reencarnando nas famílias dos novos proprietários e dos antigos coronéis e fazendeiros, assumindo com a morte destes o domínio das terras pelas quais morreram lutando. Voltava assim o comando das terras aos legítimos proprietários.

É a mão da justiça divina desenrolando o novelo do torvelinho da ambição humana.

Depois, em outra comunicação, Maria Rosa contou que teve uma encarnação curta para ajustar algumas coisas que ficaram para trás, de quando foi líder dos combatentes. Mas mesmo assim voltou para os antigos locais de combate, vinculada que estava ainda aos resquícios espirituais que ficaram impregnados nos sítios onde ocorreram as tragédias.

Então aconteceu o trabalho de amor realizado por Bezerra de Menezes a mando de Jesus que deseja o resgate de espíritos guerreiros para compor as Suas hostes. Esses espíritos são encaminhados para recuperação, reajuste e estudo no mundo espiritual e, quando estão preparados, integram as falanges dos trabalhadores do bem.

É bom saber disso porque todos nós temos a oportunidade de reajuste e correção do caminho, obedecendo ao que está escrito em Ezequiel (cap XXXIII, v. 11) que diz: “Eu juro por mim mesmo, disse o Senhor Deus, que não quero a morte do ímpio, mas que quero que o ímpio se converta que deixe o seu mau caminho e que viva”.

Para aqueles que pensam que os espíritos vinculados a Jesus permanecem apenas desfrutando as benesses celestiais, enferrujando suas habilidades, mofando sua espiritualidade, digo que sinto uma felicidade indescritível de ver esse mestre de amor chamado Bezerra de Menezes trabalhando em todos os setores da vida atuante.

Ele trabalha com os espíritos que comandam nosso planeta, rege os destinos das Américas e cuida especialmente do Brasil, país que o acolheu com amor desmedido.

O Dr. Bezerra tem um carinho especial pela nossa gente e isso se reflete no trabalho de resgate, auxilio e desenvolvimento de todos os espíritos que por aqui permanecem.

Que Jesus o ajude nesta missão gloriosa de reerguer os espíritos para Deus.

Também nós temos a certeza absoluta de que um dia precisaremos de seus préstimos de amor para corrigir nossos passos... Esperamos merecer sua complacência e carinho na hora aprazada.

Luiz Marini – 10 de outubro de 2008.

Um comentário:

Ricardo disse...

Muito bom poder propagar nesse meio sem fronteiras tudo que se vê e ouve de bom naquela casa tão amada por todos nós.

Melhor ainda é a sensação de passar mais tempo com as pessoas que gostamos, compartilhando conhecimento e sabedoria, amor e carinho.



Estão de parabéns!