quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MENSAGEM DE MARIA ROSA

Estou feliz de ver nesta casa espírita não mais as nossas cidades em guerra, porque Jesus me permitiu vir conversar com os senhores, nossos irmãos, e ver essas modernidades que tem hoje e nós de roupas rasgadas, verdadeiros trapos por que assim as tropas federais nos deixaram.

Agradeço a Jesus porque dias atrás eu estava colocada nos meus recantos quando aconteceu. Porque muitas vezes junto com meus companheiros nós ficávamos dentro dos museus olhando as pessoas bonitas, nos carros bonitos, chegando, e que ficavam olhando as nossas relíquias achando graça vendo que o tempo passou sobre nós.

E eles riam internamente pensando: pobres diabos, coitados, loucos que fizeram loucuras e morreram por isso; e eu olhava o espírito desses que assim pensavam e eles eram fétidos, podres, espíritos inferiores encarnados em corpos bonitos, com roupas lindas.

Ah! Isso para nós nada vale.

Mas eu lembro que alguns dias antes, depois de tanto vagar com meus companheiros por vários lugares, eu pedi a Jesus e a São João Maria de Agostinho, a Nossa Senhora e a São Sebastião, que olhassem por nós, por que já estávamos cansados de vagar por aquelas matas e campos sem ter para onde ir, sem ter um destino, sofrendo a dor dos solitários.

E Jesus ouviu a minha prece porque dias depois, com os companheiros, lá dentro do museu, vimos, de repente, uma luz imensa tomar conta do lugar.

Chegou cegar a gente. E eu vi que dessa luz surgiu um senhor de barbas brancas, bonito como uma manhã radiante.

E ele aproximou-se e me abraçou. Vocês não conseguem imaginar a emoção que senti.

Então ele me disse:

- Filha, eu vim a mando de Jesus para te ajudar, para auxiliar você e seus companheiros. Por isso agora nós vamos caminhar.

- Eu não sou digna que o senhor chegue perto de mim, porque o senhor tem tanta luz e eu sofro tanto assim - Disse para ele.

- Nós estamos no mundo para ajudar. Como é que vamos pedir a Jesus por nós se deixamos aqueles que sofrem perdidos por aí, esquecidos pelo mundo. Nós vamos te ajudar.

- Quem é o senhor? - Perguntei.

- Bezerra de Menezes.

Ajoelhei e beijei suas mãos. Mas ele me levantou e disse assim:

- Filha, eu nada mais sou do que um simples trabalhador.

O que tenho a fazer é resgatar aqueles que querem conosco andar. E você é um espírito que há muito tempo procuro para viver conosco.

Porque nós, como espíritos trabalhadores do Cristo Nosso Senhor, precisamos de espíritos fortes, altaneiros, guerreiros como tu e como esses teus companheiros. Só o que temos a fazer é transformar o teu andar. Levar luz ao teu coração.

Foi quando então aquela falange do doutor bezerra nos levou para um lugar diferente.

Quando abri os olhos vi que estava numa casa. Não mais aquelas taperas onde moramos e sim uma casa, toda branca. E ele me aproximou deste médium e me fez entrar dentro dele e então nos pusemos a conversar.

Aí eu senti que minhas energias que estavam paradas, estagnadas no tempo, se renovaram e eu fiquei boa e meus companheiros que estavam juntos, também melhoraram. Aquela maldição de andar pelos campos, perdidos, sem ter aonde ir, desapareceu.

Então eu enxerguei a luz!...

E o doutor bezerra me disse:

- Agora vocês têm condições de seguir conosco.

E fomos com eles para uma cidade espiritual muito linda e lá nós recebemos a benção salutar. Tomamos sopa reconfortante e um passe que nos acalmou. Vestimos roupas novas, bonitas, brilhantes, brancas, cheias de fitas verdes e azuis. E nos vimos como espíritos transformados.

Depois descansamos!...

Quando acordamos, nos levaram a um local de reuniões, um cinema, onde passaram um filme sobre a nossa vida.

Então compreendi o que aconteceu e a paz entrou em meu coração.

Depois, o doutor Bezerra me permitiu chegar e conversar com este médium várias vezes, trocar idéias, contar para ele o que eu sinto.

Desde então eu sou feliz!...

E hoje Jesus me permitiu vir entre vocês. Vocês que são modernos, que se vestem e usam coisas lindas que eu adoro.

Porque em nossos redutos, depois de certo tempo, só tínhamos trapos. Os nossos companheiros estavam mal vestidos e muitos andavam sem calçados e sofriam com o frio.

Quando fomos expulsos de nossas terras, quando construíram a ferrovia, que os homens do Rio de Janeiro mandaram fazer. Lá do Rio, os políticos vestidos de roupas engalanadas, frente aos papéis, nos quartéis, os generais, o presidente, os governadores, assinaram os atos doando quinze quilômetros de cada lado da ferrovia para as companhias, e nós, que sempre fomos os donos da terra durante cem anos, fomos expulsos de nossa terra.

Porque chegavam e mandavam sair senão queimavam as plantações, as casas e matavam quem não obedecesse. Foi esse o estopim de nossa guerra, porque nós só fazíamos para comer. Alguma plantação, um gadinho. Colhíamos a erva mate, alguma madeira, e era o que tínhamos. Éramos simples demais.

E veio o decreto expulsando a nossa gente de nossa terra.

E eu pergunto para vocês: e se eles fizessem isso com vocês. Expulsassem vocês de suas casas o que vocês fariam?

Por isso nos revoltamos.

Porque quem é filho e nasce na terra morre por ela. E assim foi com José Maria que morreu no primeiro embate no Irani, mas onde vencemos as forças federais, daqueles senhores do Rio de Janeiro que nunca levantaram das cadeiras, não pegaram um trem para vir olhar a nossa miséria. Simplesmente assinaram os papéis e que se cumprisse o escrito.

Quando mataram José Maria, o nosso povo então foi para um reduto diferente em Taquaruçú, e eu fui junto e comecei a ouvir as vozes e o espírito de José Maria e de João Maria de Agostinho porque eu era médium.

Eu era médium num lugar diferente. Se Deus me desse a oportunidade de ser um médium numa casa assim como esta casa espírita, eu juro que iria trabalhar todos os dias, eu viria dormir aqui dentro e estudar todos os dias. Eu juro que seria diferente. Mas naquela época ser médium era uma triste sina.

E quando os soldados mandados pelo exército, lá do Rio de Janeiro, pelo governo federal, para matar os insurrectos, os fanáticos, como eles falavam, eles, com seus canhões, mataram centenas de crianças, de mulheres e velhos. Atearam fogo nas casas com gente dentro só pra ver queimar.

Quem são os bandidos?

Nós que procuramos defender a nossa terra ou esses mercenários que se aproveitavam da situação?

Então de Taquaruçú, quando tivemos que sair, o reduto foi destruído totalmente. Nós fomos para outro acampamento onde as visões me pegaram totalmente; e então, eu me vestia de branco, com roupas lindas, com fitas verdes e azuis representando São Sebastião e enfrentava os peludos.

Meu cavalo tinha os arreios prateados, cobertos de veludo, porque era meu gosto. Eu tomei conta do reduto que tinha mais de 5.000 homens.

Ali nós fizemos resistência feroz, até o tempo em que a doença (tifo) nos devastou e tivemos que sair para um novo lugar.

E então apareceu um caboclo chamado Adeodato que se fez de besta e, com seus companheiros, me destituíram de meu cargo.

Eu fui traída por aqueles chamados companheiros. Mas tudo bem.

E numa dessas batalhas o meu corpo pereceu.

Mas como é que eu estava ali?. Eu sentia que estava viva, andando em meu cavalo, correndo, libertando meus amigos e assim continuei até terminar a guerra.

E depois, com aqueles amigos meus que também haviam morrido, eu vaguei pelos campos.

Mas o tempo para nós espíritos é diferente do tempo de vocês.

Eu dormia, sonhava, acordava, e não sabia onde estava.

Não me peçam se na terra reencarnei, se voltei aqui, porque Jesus ainda não me permitiu saber isso.

Só sei que quando me senti mais consciente eu estava andando pelos campos com centenas de companheiros. E uma força me chamava e eu ia até o cemitério na cidade de Irani, onde ao lado as autoridades fizeram um museu para lembrar de nossa luta e do contestado.

Setenta anos depois eles lembraram que nós, os que morremos naquelas batalhas, nós que éramos os que tinham amor pela terra. Nós queríamos a nossa terra e morremos por ela.

Vocês sabem o que aconteceu com a ferrovia que o governo mandou construir?

Não existe mais. Só tem os trilhos cobertos pelo mato. Porque as companhias só sabem andar atrás do dinheiro e se algo não dá lucro elas abandonam o trabalho.

Dez, quinze, vinte mil posseiros, colonos, sertanejos, amantes daquela terra, morreram por nada. Por um belo capricho de alguém que assinou um documento lá no Rio de Janeiro mostrando que eles é que tinham poder sobre a nossa terra. E deram 15 km de cada lado de toda extensão da ferrovia para duas companhias estrangeiras. Eles deveriam mandar embora todos os sertanejos, raízes da terra, e deveriam colonizar as duas margens da ferrovia com pessoal vindo lá de fora do estrangeiro.

Vocês acham justo?

Por isso que eu também, menina, levantei em armas e fui guerrear contra essa traição feita com o nosso povo.

E se hoje tivesse que voltar àquele tempo, do mesmo jeito, com certeza eu voltaria e faria a mesma coisa. Eu iria guerrear do mesmo jeito contra os opressores, que matam os pequeninos. Porque eles estavam lá no Rio de Janeiro e nunca vieram olhar nossa miséria.

Graças a Jesus hoje não falo mais para aquele povo de Caraguatá. Por que eu falava e eles me ouviam. Cinco mil pessoas sentadas, num pátio imenso, e eu falando para eles. E expunha isso que falei para os senhores e eles, inflamados pelo verbo, lutavam.

E o Dr Bezerra me mostrou depois, que Jesus não quer mais que os espíritos fiquem esperando deitados, sentados, vagando, que a Terra se transforme por si só num planeta de regeneração.

Ele disse que Jesus nos pediu e que nós devemos colocar mãos à obra por isso estamos com vocês aqui.

O Dr Bezerra mostrou naquele filme que passou na espiritualidade que os meus companheiros depois de um trabalho de acerto e de vivência no mundo espiritual, foram levados a reencarnar nas mesmas terras onde morreram, onde derramaram o seu sangue, mas sabem como?

Eles reencarnavam como filhos e netos daqueles coronéis, daqueles fazendeiros latifundiários, e anos depois, quando morriam os coronéis, os fazendeiros, as terras ficavam para nós, porque quem mandava não era mais um caboclo, sertanejo, pele escura, e sim o mesmo espírito em roupagem diferente. Nossa terra voltava para as nossas mãos.

Mas eles aprenderam a amar a terra, brigar por ela, morrer por ela e começaram a amar a terra, pois eram os donos das fazendas.

E começaram a tirar a escravidão do nosso povo por que muitos de nós passávamos fome.

Éramos tratados como escravos nas fazendas. Só tínhamos um cantinho junto com os animais para dormir, um pedaço de pão para comer e trabalhávamos iguais os burros de força.

Então Jesus fez isso. Fez-nos renascer na casa grande nos tirando da senzala.

Só então o rumo da justiça tomou conta do nosso contestado.

Foi assim que Jesus fez.

E se hoje tem paz na região é por que aqueles fazendeiros, os grandes do Rio, os coronéis, generais, cheios de estrelas, hoje estão pelas ruas, vagando. São os perdidos das ruas, são aqueles enfiados nas pocilgas, em locais parecidos com os nossos redutos, e estão sofrendo.

Mas a bondade divina nos ensina que devemos ajudá-los. Vejo que a falange imensa do Dr. Bezerra auxilia esses coronéis, generais, presidente, que assinaram os decretos para mandar nos matar.

Aquela foi uma sentença de morte para nós...

E se hoje Caraguatá não existe mais, eu sou feliz por falar com vocês meus companheiros.

Não me peçam se algum de vocês esteve lá junto com a nossa luta, por que Jesus não me permite dizer, mas o meu coração fulge de luz e de amor por vocês.

E por quê?

Porque vocês abriram o peito e o coração para me ouvir.

O Dr. Bezerra me diz que me adotou como filha de seu coração e eu digo que o recebo como meu pai para sempre.

Se um dia precisar eu hei de voltar à Terra, não mais para empunhar as armas numa guerra como foi o contestado, não mais para defender a nossa terra, mas para defender o espírito.

Eu estarei aqui.

O Dr. Bezerra me diz: eu quero você e seus companheiros ao meu lado porque eu preciso de espíritos fortes, lutadores, guerreiros, que se precisar descer lá no fundo das trevas, eu sei que vocês estarão prontos.

Pode ter certeza que iremos, porque nós temos coragem, o senhor sabe disso, doutor Bezerra.

Encontramos neste centro de amor e caridade, na maioria dos irmãos, muita coragem, muita fé e perseverança.

Estou feliz porque o doutor Bezerra me permitiu vir e conversar com vocês, não mais como em Caraguatá, não mais, porque lá os ânimos eram inflamados, diferentes, mas sim numa casa de amor e caridade.

Com certeza eu vou voltar muitas vezes, se Jesus me permitir, para conversar com os senhores.

Eu peço desculpas por falar assim, nesta hora, mas que hora há melhor que esta? Ou será que seria importante que este médium recebesse a minha voz o meu espírito, e fizesse a psicofonia entre três ou quatro irmãos apenas?

Não! Nós temos que provar que o espírito vive, continua vivo depois da morte do corpo, e que ele tem condições de renascer das cinzas e se tornar melhor.

Quando muitos irmãos menos esclarecidos se debatem com alguns médiuns não levem em conta, senhores, observem como aprendizado, porque na verdade eles têm permissão de vir porque os senhores precisam aprender.

Porque Jesus fez isso no tempo em que esteve na Terra, quando os espíritos inferiores, maus, perversos, chamados demônios, se debatiam, se jogavam no fogo, na água, e Jesus os curava.

Levava esses espíritos ao mundo espiritual para reajuste e as pessoas ficavam boas.

Se Jesus nos permitiu vir é porque tínhamos que contar a história por nós mesmos para vocês.

Recebam o meu abraço.

Só podemos agradecer a Jesus, como Bezerra agradece.

Ele ajuda meu espírito a crescer...

(Nesse momento a médium Ângela entrega uma rosa para o espírito que agradece emocionado).

Mensagem recebida por psicofonia pelo médium Luiz Marini, em reunião pública, em 01-10-08 no Centro Espírita Dr. Adolfo Bezerra de Menezes.

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